21 de outubro de 2005

Por uma cultura de paz


Depois dos escândalos de corrupção ocorridos no País, que continuam sendo investigados sem a mesma repercussão de antes, o assunto da vez é o Referendo da comercialização de armas e munições. Você pode pensar que esse é um golpe oportunista do governo federal para desviar-se das suas responsabilidades; pode achar que é mais uma invenção do Planalto para confundir a opinião pública; que uma votação dessa parece inadequada para um país cujo índice de criminalidade é altíssimo. Só não deve usar esses argumentos como desculpa para votar a favor da livre comercialização de armas, ou seja, votar "não", acreditando que a manutenção da paz e da ordem social se faz com a população armada. Nem se iludir, achando que, ao fazer essa opção, estará protegendo o próprio lar e a família. Muito menos pensar que esse momento se trata de uma luta do bem contra o mal.
O Referendo é uma rica oportunidade que está sendo ofertada ao povo brasileiro para decidir se quer manter o clima de violência que vem se instalando há anos no País ou construir, daqui para frente, uma cultura de paz. É a maturidade do direito de escolha que nos está sendo dada.
E não falo aqui de violência urbana apenas, mas, principalmente da violência que ainda alimentamos com pensamentos, sentimentos e comportamento desequilibrados. Falo não de bandidos armados, porque estes são responsabilidade do Estado, e nós não o podemos isentar disso. Falo de homens de bem com o espírito armado. Homens de bem que, numa discussão de trânsito ou até entre amigos, empunham uma arma que guardam em casa ou levam no carro “para se proteger dos bandidos” e resolvem descarregar a sua raiva momentânea, atirando em seu semelhante.
Falos de maridos que, incentivados pelo consumo do álcool, resolvem as suas frustrações subjugando a família ou tirando a vida da própria companheira à bala. Falo de jovens que, acreditando na impunidade, engrossam as estatísticas, matando namoradas e amigos em brigas banais, nas boates, nos shows ou em festas populares. Falo de crianças que, encontrando uma arma em casa, matam o irmão ou o amiguinho sem a menor possibilidade de defesa, apenas porque brincavam de mocinho e bandido quase sob as vistas dos pais.
Falo de você, cidadão comum, que é um homem de bem, que não foi treinado para atirar, a quem a polícia orienta sempre para nunca reagir a uma abordagem, mas que resolve comprar uma arma para “se proteger” e pode facilmente encarnar o papel de bandido se, num momento de provação, estiver com o espírito armado. Falo do exemplo do Cristo, sempre atual, que se deixou ser violentado e morto, mas nunca se permitiu servir a nenhuma outra cultura que não fosse a do amor e da paz.

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