Em outros tempos, viver parecia ser mais fácil. Sentir era apenas uma expressão natural do processo de existir.
Não sei bem precisar em que exato momento fiquei parada na estação, enquanto o trem partia. Eu sem nenhuma expressão: nem sorrisos, nem acenos. Apenas olhos que miravam o que não podiam reter...
Passou o dia e pareço ter ficado no mesmo lugar por horas e horas, a despeito da noite e do frio, que logo se fizeram presentes. Mais um dia veio e permaneci acordada, como se tivesse parado de contar o tempo – suspensa entre o sonho e o que parecia real. E era aquele, apenas um dia a mais num cenário monocromático...
Obsessão é a palavra que eu uso para conceituar as idéias fixas, repetitivas e com pouco fundamento. É dela que surgem as doenças, as síndromes de pânico e os labirintos emocionais em que o sujeito se enfurna por não conseguir lidar com uma determinada situação, gerando problemas ainda maiores para si, como a depressão e a loucura.
Tudo isso eu sei. Só não sei é como abrir essa porta que tranquei atrás de ti, e de tudo que parecia viável... Vejo borboletas volitando nos ares, entre o vazio do azul e o colorido das flores, no exercício vão de existir... são tão frágeis! No entanto, enchem o mundo de uma beleza inconfundível, que me emociona, com suas asas de seda e seu vôo trêmulo. Mesmo que durem apenas um dia...
Viver pode ser só isso: um raio de sol refletido no correr das águas. A nuvem que passa por instantes gera sombra, esconde a luz, mas não apaga seu brilho - que retorna ainda e sempre mais forte.
Quando a noite cai e se finda o dia, um raio de sangue se esvai pelo firmamento sem alterá-los, nem o sol nem o rio. Então uma nesga de luz começa a rasgar um outro pedaço de céu. E o sol brilhará ainda... Em outro lugar.
19 de julho de 2005
O vôo das borboletas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário