19 de julho de 2005

O vôo das borboletas



Em outros tempos, viver parecia ser mais fácil. Sentir era apenas uma expressão natural do processo de existir.
Não sei bem precisar em que exato momento fiquei parada na estação, enquanto o trem partia. Eu sem nenhuma expressão: nem sorrisos, nem acenos. Apenas olhos que miravam o que não podiam reter...
Passou o dia e pareço ter ficado no mesmo lugar por horas e horas, a despeito da noite e do frio, que logo se fizeram presentes. Mais um dia veio e permaneci acordada, como se tivesse parado de contar o tempo – suspensa entre o sonho e o que parecia real. E era aquele, apenas um dia a mais num cenário monocromático...
Obsessão é a palavra que eu uso para conceituar as idéias fixas, repetitivas e com pouco fundamento. É dela que surgem as doenças, as síndromes de pânico e os labirintos emocionais em que o sujeito se enfurna por não conseguir lidar com uma determinada situação, gerando problemas ainda maiores para si, como a depressão e a loucura.
Tudo isso eu sei. Só não sei é como abrir essa porta que tranquei atrás de ti, e de tudo que parecia viável... Vejo borboletas volitando nos ares, entre o vazio do azul e o colorido das flores, no exercício vão de existir... são tão frágeis! No entanto, enchem o mundo de uma beleza inconfundível, que me emociona, com suas asas de seda e seu vôo trêmulo. Mesmo que durem apenas um dia...
Viver pode ser só isso: um raio de sol refletido no correr das águas. A nuvem que passa por instantes gera sombra, esconde a luz, mas não apaga seu brilho - que retorna ainda e sempre mais forte.
Quando a noite cai e se finda o dia, um raio de sangue se esvai pelo firmamento sem alterá-los, nem o sol nem o rio. Então uma nesga de luz começa a rasgar um outro pedaço de céu. E o sol brilhará ainda... Em outro lugar.

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