Depois da tempestade...

Depois da tempestade... Às vezes, vem mais tempestade ainda. Com grossos pingos caindo sobre o asfalto, pessoas apressadas a caminho da casa, cachorros enconlhidos em busca de abrigo, pontos de ônibus sendo disputados à tapa (apesar da pouca proteção), pessoas relutantes entre o deixar-se molhar, como faziam na infância, ou o correr da chuva, como opta a maioria...
Foi numa dessas situações que eu fui buscar, outro dia, não o abrigo, mas o confronto com os pingos que caiam como pontas de lança sobre meus ombros. Era noite e eu lutava bravamente contra a outra tempestade que me afligia: Uma tempestade interna que me abrasava a mente - a de cunho emocional.
Corria de mim mesma. Dos pensamentos desencontrados. Da confusão que criara na mente: O tempo mal administrado, sentimentos contraditórios, afetos traídos, cansaço, enfado... Era a desilusão em pessoa. E o que é pior: desiludira-me comigo mesma.
O céu escureceu e um barulho ensurdecedor fez desabar sobre mim uma enxurrada. Eu buscava o calçadão da praia para desopilar. A água não tinha outra opção, apenas se entregava ao que era o seu destino: Caiu sobre mim - resoluta e firme.
Por um instante, mínimo, pensei em voltar. Fiquei indecisa. Até que finalmenete me entreguei, pequena e indefesa... mas feliz. Saí em disparada com o vento zuando à minha orelha,
abraçando-me de frente, sendo penetrado por meus movimentos ágeis, frenéticos... e indecentes.
Olhava em torno e via as pessoas me fitarem com estranheza. Havia espanto neles. E censura. Enquanto eu sorria e me deixava ser tomada de assalto. Havia gozo nisso. E liberdade. Eu mais me entregando ao instante agora. Duas forças se encontrando na obra de Deus...
Peguei-me pelo braço e redescobri o prazer da minha companhia - como uma adolescente. Sem medos nem culpas. Apenas o desejo de me fazer feliz. Desci toda a orla no tempo de um espasmo. Saí da tempestade tomando banho de chuva.