25 de agosto de 2005

alternadaM.E.N.T.E

Às vezes olho a vida pela janela e diviso coisas que não me agradam. Mas devo ser complacente quase sempre com os erros alheios, embora me doa muito ainda a injustiça, a maledicência, a má vontade que há nos homens, a resistência que o ser humano tem para avançar e crescer... Porque sou falha. E por ser assim é que procuro me eximir de um julgamento severo. Pois encontro muitas vezes os mesmos equívocos, os mesmos defeitos, também do lado de dentro. De dentro de mim.
Sou doce canção para os que me escutam pela primeira vez. Sou flor do campo. Frescor de primavera sou, quando sou novidade. Suave brisa que alivia as tensões e ensina o caminho. Um cantinho de paz nesse mundo de guerras... E abandono. Sou lua, cumprindo seus ciclos.
Para os que gozam do meu convívio sou ácida, no entanto. Líquido corrosivo, muitas vezes. Sou lava fumegante que queima e petrifica em gestos pequenos. Sou nuvem – densa e escura – pronta a desaguar numa torrente a qualquer momento. Sou o castigo do vento. Às árvores, à folhagem, aos transeuntes... Que sofrem com o frio cortante. Sou neve e granizo, muitas vezes.
Olhar pela janela, no entanto, não me livra das dores do mundo. Não me salva nem me liberta. Antes me isola em meu próprio mundo. Em meu próprio Ser. Meu imenso pequeno mundo. Pobre e adorável mundo meu - onde me encontro e me perco com frequência.
A tantos andei entregando os meus pertences. Barganhei em nome do amor. Mergulhei em busca do amor. E só fiquei ainda mais triste... Porque o amor é mais que sorrisos. É mais do que sonhos que se sonham a dois. É mais do que as mãos e suas carícias. Mais que a minha boca, que leva ao delírio. Mais do que essas palavras vãs, que não advogam por mim...
A única coisa de que preciso agora é desse pedaço de silêncio. É desse canto insignificante; que, de tão insignificante, não pode ser encontrado, nem eu descoberta nele. E apenas para que me olhe de frente e consiga enxergar-me do jeito que realmente sou. Bonita e sem graça, como é bem possível. Chorando e sorrindo, de mim mesma. Calando e ferindo, mesmo assim. Sofrendo e ascendendo. A.l.t.e.r.n.a.d.a.m.e.n.t.e...
Afinal, sou daquelas que se enfeitam por dentro. Que acreditam que a beleza real está dentro do embrulho. Que não se alimentam do que se encantam os olhos. Vivem de tudo o que sobrevive ao declínio físico. Daquelas que nunca se entregam à morte - eu sou assim. A não ser quando já perderam tudo que era vida... Como agora.

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